Posted by : Centro Espírita Grupo Fraternidade e Luz sábado, 28 de dezembro de 2013

       



  Para entender esse artigo devemos a priori entender o que é ser “idoso”, quando chegamos à chamada “terceira idade”.
        A meia-idade(1) é considerada para alguns pesquisadores(2), em termos cronológicos, a vida adulta intermediária como sendo dos 45 aos 65 anos; assim, a partir desta faixa etária o ser humano é considerado “idoso” ou integrante da “terceira idade”.
       Sabemos que envelhecer é um processo que, de fato, começa quando se é gerado e move-se inexoravelmente através de toda a vida. No entanto, depois dos cinquenta anos de idade, ordinariamente, o processo é acelerado. Várias mudanças ocorrem na vida do homem nessa idade. Essas mudanças se dão na vida física, emocional, intelectual e social. Do ponto de vista fisiológico, o homem experimenta mudanças nos sistemas cardiovascular, digestivo, respiratório e nervoso, todas elas com profunda repercussão no seu comportamento em geral. O isolamento social e a solidão a que a pessoa idosa está sujeita, em muitos casos, é grande responsável pelo senso de inutilidade comum às pessoas idosas.
       Deparamo-nos assim com diversos fatores conceituais, entre eles destacamos:
– A idade para o estabelecimento desta situação não coincide nem em todos os países nem em todas as culturas;
– O envelhecimento é um fenómeno natural, inerente à finitude biológica do organismo humano, mas é um processo diferencial em cada um de nós;
– Envelhecimento é: cronológico – idade objetiva; biológico – molecular, celular, orgânico, estrutural e funcional.
        À medida que as pessoas envelhecem, aumenta de forma gradual o risco de adoecerem e de ter dificuldades funcionais motoras e sensoriais (entre outras); os indivíduos sentem-se mais fatigados e tornam-se mais lentos.
        Segundo Mataix(3) (2002), sob o ponto de vista funcional, velhice é quando se produz pelo menos 60% das funções fisiológicas atribuíveis à idade ou capacidade reduzida de manter a homeostase(4).
         O envelhecimento é uma preocupação que sempre esteve presente na história da civilização. Podemos exemplificar através dos textos do antigo Egito, referencias de 2.890 a.C., de autoria do médico e arquiteto Imhotep(5). O símbolo da medicina, originário da Mesopotâmia, o “Caduceu”, é representado por serpentes que significam também a preocupação com o rejuvenescimento.
         Embora o envelhecimento tenha sido estudado por muitos, no decorrer de nossa história, somente com o livro Gerontocomia(6), de autoria do médico Gabriel Zerbi (1468-1505), começaram a ser produzidos artigos e livros específicos sobre envelhecimento. 
Não há dúvidas quanto o crescimento da população de idosos em todo o mundo. Em termos percentuais, esta faixa estaria já ultrapassa 9%, o que corresponde a 15 milhões de idosos acima de 60 anos.
         Em 2020 a população mundial de idosos é estimada em 1,2 bilhões; no Brasil a estimativa é de 30 milhões(7), e esse aumento na longevidade tem como principais causas os avanços tecnológicos, principalmente na área médica, com o desenvolvimento de vacinas, remédios e equipamentos, aliados a uma melhor condição de vida. A grande maioria dos idosos hoje mantêm um estilo de vida ativo, aderindo à prática do exercício físico regular.
“O aumento da expectativa de vida e do contingente de idosos é um fenômeno mundial. Os avanços médicos e tecnológicos vêm propiciando o aumento considerável tanto na expectativa de vida da população, quanto na queda da taxa de natalidade”.
       Ao se falar em envelhecimento, porém, seria hipocrisia não ter consciência de que a morte é inevitável, e nesse sentido a religião pode ser um dos fatores mais importantes na vida de uma pessoa idosa, ajudando-a neste processo do envelhecer e preparando-a para a continuidade persistente do “eu”, significando que o “eu” deve se desenvolver rumo à maturidade, aprimorando sua autopercepção, experiência que capacita a mente a projetar-se no mundo exterior e que resulta numa vida de atividade criativa, habilidade de mudar e modificar-se, capacidade de adaptação, adquirindo uma visão global da vida, que implica na compreensão tanto da temporalidade quanto da eternidade da vida.
         À luz dessa visão, a existência humana tende a ser vista como um contínuo mais ou menos independente do corpo “material”, o que faz da realidade da morte uma matéria secundária. A fé de um homem pode ajudá-lo na formulação de uma filosofia de vida que determinará sua atitude para com o seu próprio envelhecer e para com sua própria morte.
Victor Hugo brilhantemente nos brinda com a frase: 
      “Quando eu descer à sepultura, afirmarei, como muitos outros: ‘Terminei meu dia de trabalho’. Mas não posso afirmar: ‘Terminei minha vida’. Meu trabalho começará de novo na manhã seguinte. A tumba não é uma viela; é uma passagem livre. Fecha-se ao lusco-fusco; abre-se ao romper da alva.”(9) 
       Para a Doutrina Espírita o ciclo o da vida se altera constantemente: nascer, crescer, amadurecer, envelhecer, morrer e “renascer”. Eis o que nos diz o Espiritismo. A morte é apenas um momento no infinito de nossas existências. Essa afirmativa dá um golpe sério no conceito tradicional de morte.
      “Quando o Júri de Atenas condenou Sócrates à morte em vez de lhe dar um prêmio, sua mulher correu aflita para a prisão, gritando-lhe: “Sócrates, os juízes te condenaram à morte”. O filósofo respondeu calmamente: “Eles também já estão condenados”. A mulher insistiu no seu desespero: “Mas é uma sentença injusta!” E ele perguntou: “Preferias que fosse justa?” A serenidade de Sócrates era o produto de um processo educacional: a educação para a morte.”(10)
        Na concepção espírita da vida, a morte não é morte: é apenas passagem de um plano da vida para outro.
        “Kardec lembrou que, se somos seres humanos, de natureza espiritual, temos também o ser do corpo, que mesmo na metamorfose da morte é vida e movimento. A concepção estática das coisas é uma ilusão sensorial. A Física atual abandonou a concepção material do Universo. Vivemos em espírito e pelo espírito, desde a pedra até o anjo.”(11)
Sob esse prisma lembramos a famosa frase: 
      “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”.(12)


1. Termo apareceu pela 1a vez nos dicionários em 1895, quando a expectativa de vida começou a se prolongar.
2. PAPALIA, DE; OLDS, SW; FELDMAN, RD. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed; 2006.
3. LAWRENCE, N., WOODERSON, S., MATAIX-COLS, D., DAVID, R., SPECKENS, A., PHILLIPS, M., (2002). Decision aking and set shifting impairments are associated with distinct symptom dimensions in obsessive-compulsive disorder. Neuropsychology, 20(4), 409-419.
4. Equilíbrio entre mente e corpo.
5. Imhotep (por vezes grafado Immutef, Im-hotep ou Ii-em-Hotep; É considerado o primeiro arquiteto, engenheiro e médico da história antiga.
6. Fonte: NETO, M. PONTE, J. Envelhecimento: Desafio na transição do século. In: NETTO, Matheus Papaléo. Gerontologia. São Paulo. Ed. Atheneu.1996.
7. Fonte: Porto. Longevidade: Atividade Física e Envelhecimento. Maceió: EDUFAL, 2008. 
8. FREITAS, E. V. (2004) Demografia e epidemiologia do envelhecimento. In: L. Py, J. L.Pacheco & S. N Goldman. Tempo de envelhecer: percursos e dimensões psicossociais. pp. 19-38. Rio de Janeiro: Nova Editora.
9. MARIOTTI, Humberto. Victor Hugo espírita. São Paulo, Correio Fraterno, 1989.
10. PIRES. J. Herculano. Educação para a Morte. São Paulo, Correio Fraterno do ABC, 1984.
11. ________. Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas. Paideia, São Paulo, 1981.
12. Epitáfio no túmulo de Kardec no Cemitério PèreLachaise, na capital francesa.

Conteúdo retirado da revista O Clarim do mês novembro 2013

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